Existem
momentos na vida em que os papéis são redimensionados, este é um
deles.
Guardada no silêncio do meu quarto numa busca de me
reinventar revirei o baú abandonado no recôndito de minha alma, o
qual há tempos eu o chamei de “emoção”.
Ao
remexê-lo descobri ali esquecida juntas com outras lembranças, a de
que um dia eu fui à palhaça do Grande Circo das Ilusões. Circo de
fama internacional no qual ela vivia de glamour, de alegria e de
grandes espetáculos, até que um dia percebi que no palco da vida,
como na arte, eu tinha vivido apenas de ilusões.
Naquele
momento era como se cada lembrança arranca-se de mim os meus medos,
os meus fracassos e me desnudava, aliás, como fazia ao fim de muitos
espetáculos, deixava o picadeiro o grande palco da vida sobre
aplausos, entre o palco e o camarim. Desnudava-me do disfarce: o
sorriso maquiado em meu rosto; Para não deixar refleti a tristeza
que em minha alma refletia.
Era
quando a artista, que ora se apresenta, deixava a tristeza, seu
algoz, se fazer rainha tornando a fantasia, a armadura que me
protegia tão pesada ao ponto de arrancá-la. E, na solidão do
camarim, antes do meu corpo fadigado da lida descansar em um sofá
envelhecido, passava a ser a poetisa e extravasava em palavras
versadas o que me atordoava.
PORTA-VOZ
POR
BTSE
Hoje
me vi sem rima,
As
palavras antes escrita
Com
a alma,
O
coração
E
a emoção.
Ora
escrita para extravasar
Os
meus sentimentos.
Que
buscam respostas
Para
suscitar as dúvidas do meu Eu.
Eu
que se cala,
Chora
E
questiona os seus porquês.
Chegando
ao ápice de devanear
Versos
em harmonia
Com a emoção
Com a emoção
E
a paz por ele tão desejada.
Mas
a realidade
Rompe
barreiras
E
faz de seus versos
Respostas
aos seus porquês.
Por
desejar eternamente
A
MINHA FELICIDADE.
Mas
na covardia de seus versos,
Faz
de suas entrelinhas
Porta-voz
do seu querer.
Querer
esse,
Que
não quer se calar
Que
me faz ri,
Chorar
E
sofrer.
Porém,
muitas vezes o cansaço vencia a vontade de poetizar e adormecia, ali
no mundo dos sonhos, a solidão, o medo, a saudade e tudo que fazia
do sorriso da palhaça um disfarce, sumia.
Nele
os meus gestos era direcionado para outro alguém, meus sorrisos eram
reais, sem a maquiagem da palhaça, eu estava em um circo, onde a
lona era o seu estrelado, o picadeiro era mágico todo azul com
flores ao redor, a arquibancada era multicolorida.
A
felicidade estava estampada em meu rosto, era uma apresentação
única e exclusiva, tão lírica chegava a ser ingênua ao demonstrar
o quanto estava feliz.
Até
ser lentamente desperta por uma voz suave, a da minha assistente que
carinhosamente me avisava que faltavam alguns minutos para o início
da próxima sessão.
Por
segundos tentei voltar a sonhar, mas a palhaça precisava exercer o
seu ofício fazer a felicidade alheia. Eu mestre da ilusão vestia a
minha segunda pele, a mágica roupa de palhaça. Nesse instante a
magia do sorriso tornava o meu eu momentaneamente feliz, mas a
tristeza continuava implícita em minha alma.
De
longe eu ouvia o rufar dos tambores, anunciando que a pantomima da
vida começaria e como o show não podia parar, olhava-me no espelho
e via refletido à “palhaça”, mas a janela de minha alma, os
meus olhos refletiam a tristeza.
Vesti
novamente a fantasia que aos olhos dos outros era multicolorida, mas
aos meus era monocromática, como a maquiagem que em meu rosto fiz.
Foi assim que deixei o camarim rumo ao picadeiro com a alma inundada
das lágrimas, que as engoli para a palhaça sorri.
Naquele
momento me desnudava da poetisa e a Palhaça voltava à cena frágil.
Na pantomima da vida ao ser anunciada, entrei no picadeiro o meu
rosto esboçava o sorriso maquiado, mas a alma e o coração
inundados de lágrimas.
Encenava
com a maestria o meu ofício e na arquibancada a plateia de pé me
aplaudia pé e gritava:
_
A Palhaça o que é?
_
É a ladra de coração!!!
Naquele
lugar mágico eu permaneci inerte, silente por alguns minutos entre
os meus sentimentos e a magia daquele lugar, na verdade eu parecia
estar em transe, sem perceber que o espetáculo tinha terminado.
Momentaneamente
eu cruzava a fronteira da triste realidade, para sonhar acordada que
atuava em lindo picadeiro, sorrindo para alguém que me fazia sorrir,
enquanto ao meu redor o circo se esvaziava. E, fiquei ali sozinha em
meio à confusão do meu eu, até as lágrimas.
Talvez
eu estivesse tomando para mim a força emanada pelos aplausos e da
magia ali celebrada, por alguns momentos que para mim parecia uma
eternidade, mas foi desperta por aquela voz angelical e por amigos
eufóricos que me rodeavam.
_Palhaça!
Palhaça!
Eu
não sabia se ali estava a Palhaça, ou a Poetisa a chorar...
Como
na poesia:
A
PALHAÇA, A POETISA NO PICADEIRO DAS EMOÇÕES
POR
BTSE
Verso
este poema,
Para
mais uma vez relembrar do passado,
Quando
eu fui à palhaça
Do
Grande Circo das Ilusões.
Nesse
palco da vida
Eu
era a mestre da ilusão.
Nele
poetizei a palhaça
Que
o público fascinou.
Naquele
palco:
A
ilusão!
A
magia!
No
lúdico picadeiro:
A
vida!
O
amor!
Emoções
por mim revividas:
De
poetisa a palhaça.
De
palhaça a bailarina.
De
bailarina a equilibrista.
De
equilibrista a...
...mulher.
Que
aprendeu com a Palhaça
No
picadeiro da vida
Poetizar
as ilusões.
Nele
conheci o meu Eu artista,
Vivi
ilusões, a magia da vida
E
a mais pura emoção.
A
Palhaça fez a plateia gargalhar,
Chorar
e até pensar que ela era feliz...
Fez
da fantasia e da maquiagem
Sua
lúdica armadura.
Como
a poetisa faz de seus poemas
Arauto
do seu querer.
No
espelho da vida
O
seu eterno camarim.
O
que ela vê?
A
poetisa,
Ou
a palhaça!
Na
verdade ela vê refletido o rosto:
Da
mulher!
Da
palhaça!
Da
poetisa!
No
grande espelho que é a vida,
Um
picadeiro das emoções.
Ao
despertar compreendi que a arte serve para que em certos momentos da
vida o insuportável se torne suportável, assim como a pintura no
rosto da palhaça, sua máscara.
A
última apresentação da artista, a “palhaça” entra no
picadeiro estonteante, mas no seu íntimo o desamor e a decisão de
um adeus, ou de um até breve. O seu coração vagava perdido
pela plateia, que repetidas vezes gritava:
_
A palhaça o que quer? _ Perguntava a mestre de cerimônia, a Vida.
_
O coração de outro alguém. – Era resposta a ecoa por todo o
circo.
Porém,
ao fim da apresentação o senhor de todas as artes, ou da vida o
Destino, mais uma vez me surpreendia. Quando tentei sorrir no
exercício de minha arte, naquele lugar onde a magia escondia a mais
dura realidade, vi na arquibancada o ser que um dia a palhaça
encantou.
Não
era ilusionismo ou magia, o ser que outrora roubou o meu coração
estava ali, naquele momento busquei a força emanada pelos aplausos e
fiz da palhaça a porta-voz de minha felicidade, fazendo a melhor
apresentação de minha vida, na qual exercitei a sedução de gestos
e olhares.
Sobre
a sinfonia dos aplausos da plateia a sorrir, o picadeiro virava o meu
paraíso, os holofotes que iluminavam cada gesto meu, ou melhor, as
minhas palhaçadas, se igualavam aos olhos que me seduziam, como eu
seduzia a todos ali presente... Assim
eu fiquei sem precisar o tempo.
Eu
e a plateia compartilhávamos um sorriso ímpar, foi nesse momento
inimaginável, no qual eu fiz da minha felicidade a da plateia, que
como de costume em pé respondiam a pergunta do mestre de cerimônia:
_
A palhaça o que quer? _ Perguntava a mestre de cerimônia, a Vida.
_
O coração de outro alguém. – Era resposta a ecoar.
E,
no picadeiro da ilusão entreolhar eu poetizei:
SILÊNCIO
POR
BTSE
Mais
uma vez o circo
Que
outrora se ouvia
A
plateia aplaudir.
Silencia-se!
A
poetisa que se fazia
Palhaça
desse lindo espetáculo
E
de seus versos a apresentação deste.
Silencia-se!
Fecha-se
a cortina,
No
picadeiro somente
A
mais completa escuridão
E
o silêncio.
A
palhaça encerra o espetáculo,
Mais
uma vez se faz poetisa,
Fecha
os olhos,
Busca
no silêncio os aplausos.
Picadeiro
e palhaça,
Poetisa
e versos,
Silenciam-se
com o fim
De
mais um espetáculo.
Naquele
momento como em muitos outros, a vida por detrás daquela maquiagem
um sorriso, era quando a maravilhosa ingenuidade da palhaça se
transformava em arma de sedução.
Como
agora, envaidecida pelos aplausos não percebi a hora em que o ser
por mim amado deixou o circo (a minha vida).
Por
segundos, como em outras apresentações passei a exercer a minha
arte de fazer a felicidade alheia, na qual a ilusão e a magia era a
dura realidade.
Momentaneamente,
eu desejei que os aplausos cessassem, para que eu deixasse o
picadeiro, pois a magia daquele palco tinha esvaído junto com a
minha felicidade.
Por
um curto período de tempo, não sei precisar, eu fechei os meus
olhos e deixei as lembranças me levarem, para algum lugar no qual a
alegria de um palhaço era luz aos seres que ali choravam, ou
gritavam aterrorizantemente.
Um
anjo em forma humana tirou-me daquela treva, ao se desgarra de sua
mãe, correr em minha direção gritando:
_
Palhaça! Palhaça! Você está chorando, por favor, dê um sorriso.
—Disse isso me deu um beijo e saiu correndo em outra direção.
A
sua mãe olhou para mim, balançou a cabeça, me pediu desculpa
e saiu no encalço do filho.
_
Desculpa!
Mais
uma vez silente deixei o picadeiro da ilusão, parecia que carregava
os milhares de seres que em sonho ao me verem clamaram por um
sorriso, me aplaudindo. Aplausos que ora me aturdia.
O
silêncio do camarim me fazia interagir com o meu eu, precisava
despir-se da segunda pele (a fantasia), da maquiagem (a máscara) e
vê refletido no espelho o cansaço e a aflição.
Então
me despi não só da palhaça como da atriz e passo a ser poetisa,
como agora. E, de posse de uma caneta e papel em branco, calei-me e
fiz dos meus versos, o que não conseguia dizer:
REVELAÇÃO
POR
BTSE
Sábias
palavras
Revelaram
em minha alma.
Verdades
outrora adormecidas
E
sentimentos há tempos o esquecido.
Benditas
palavras.
Frases
malditas...
Atormentaram
momentaneamente
A
minha alma
Dominando
o meu sofrer.
Rogo
aos anjos e arcanjos
Seres
de boa vontade,
Que
aclarem os meus pensamentos.
Façam-me
entender!
Façam-me
acreditar que o mundo conspirou.
Deixem-me
crer que ele
Deu-me
a bênção de lhe ter.
Ao
abrir o baú da emoção pude ver que por muitas vezes eu fiz a
felicidade alheia, com a minha alma inundada pelas lágrimas, que a
maquiagem escondia.
Nesse
momento desperto para a vida, então fecho mais uma vez o baú
(no meu eu), as lembranças que ora vivenciei igualam o meu passado
ao presente e a solidão me aflige.
O
meu eu atriz olha no espelho chamado ilusão e vejo o sofrimento de
outrora e faço dos poemas por mim versados, porta-vozes da esperança
em encontrar a felicidades com outro alguém.
ALGUÉM
POR
BTSE
Quem
será esse alguém,
Que
chegará à minha vida
Para
me amar
E
ser amada.
Duas
almas livres
A
se tornarem uma só
E
no amor serem felizes.
Dois
corpos ávidos
Em
uma união perfeita
No
alvorecer do amor.
Quando
se inicia
Mais
uma vez a batalha da vida,
Na
qual não se terá
Vencido
ou vencedor.
Por
sermos
Almas
pelo amor, cativas.
Infinitamente
felizes
Em
vivenciarmos
Esse
amor.
Quem
será esse alguém?
Quem
será?
Então
a atriz se vê mulher se maquia, sorri e se prepara para entrar no
palco da vida. Olho para o horizonte, como se amanhecesse em minha
alma e vejo um sorriso de esperança, como o meu nome.
Aliás,
desculpa por não ter me apresentado, eu me chamo Esperança, aquela
que outrora vivia ora aqui outra acolá se apresentando no palco da
vida, até encontrar um novo amor.
Quando
fez da palhaça apenas lembranças guardadas a sete chaves no baú
chamado “Emoção”.
PALHAÇA
POR
BTSE
A
palhaça o que é?
É
o riso no ar,
A
criança a brincar
E
a plateia a sorrir.
A
palhaça o que é?
É
palavra no ar,
Corações
a palpitar
E
a emoção a fluir.
A
palhaça o que quer?
Um
coração distraído,
Um
olhar encantado
E
uma paixão a florir.
A
palhaça o que faz?
Ao
semear alegria
Faz
do picadeiro magia.
Espalhando
esperança
Por
todo o mundo,
Com
o seu olhar.
Ao
fim do espetáculo
Ao
som dos aplausos,
Colhe
o amor.
Nesse
eterno ofício,
A
palhaça, ora mulher
Veste
a sua linda fantasia
Multicolorida
E
no espelho da ilusão
Faz
a mais linda maquiagem
E
a magia acontece.
A
mulher sorri para o amor,
A
palhaça sorri do amor,
Que
no picadeiro encontrou.
Notas Finais:
Novamente a plateia em pé grita: A palhaça o que quer? O coração de outro alguém!
Novamente a plateia em pé grita: A palhaça o que quer? O coração de outro alguém!
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