domingo, 24 de novembro de 2013

FIM DE ESPETÁCULO



Existem momentos na vida em que os papéis são redimensionados, este é um deles.  

Guardada no silêncio do meu quarto numa busca de me reinventar revirei o baú abandonado no recôndito de minha alma, o qual há tempos eu o chamei de “emoção”.
 
Ao remexê-lo descobri ali esquecida juntas com outras lembranças, a de que um dia eu fui à palhaça do Grande Circo das Ilusões. Circo de fama internacional no qual ela vivia de glamour, de alegria e de grandes espetáculos, até que um dia percebi que no palco da vida, como na arte, eu tinha vivido apenas de ilusões.

Naquele momento era como se cada lembrança arranca-se de mim os meus medos, os meus fracassos e me desnudava, aliás, como fazia ao fim de muitos espetáculos, deixava o picadeiro o grande palco da vida sobre aplausos, entre o palco e o camarim. Desnudava-me do disfarce: o sorriso maquiado em meu rosto; Para não deixar refleti a tristeza que em minha alma refletia.

Era quando a artista, que ora se apresenta, deixava a tristeza, seu algoz, se fazer rainha  tornando a fantasia, a armadura que me protegia tão pesada ao ponto de arrancá-la. E, na solidão do camarim, antes do meu corpo fadigado da lida descansar em um sofá envelhecido, passava a ser a poetisa e extravasava em palavras versadas o que me atordoava.

PORTA-VOZ
POR BTSE

Hoje me vi sem rima,
As palavras antes escrita
Com a alma,
O coração
E a emoção.

Ora escrita para extravasar
Os meus sentimentos.

Que buscam respostas
Para suscitar as dúvidas do meu Eu.

Eu que se cala,
Chora
E questiona os seus porquês.

Chegando ao ápice de devanear
Versos em harmonia
Com a emoção
E a paz por ele tão desejada.

Mas a realidade
Rompe barreiras
E faz de seus versos
Respostas aos seus porquês.

Por desejar eternamente
A MINHA FELICIDADE.

Mas na covardia de seus versos,
Faz de suas entrelinhas
Porta-voz do seu querer.

Querer esse,
Que não quer se calar
Que me faz ri,
Chorar
E sofrer.


Porém, muitas vezes o cansaço vencia a vontade de poetizar e adormecia, ali no mundo dos sonhos, a solidão, o medo, a saudade e tudo que fazia do sorriso da palhaça um disfarce, sumia.

Nele os meus gestos era direcionado para outro alguém, meus sorrisos eram reais, sem a maquiagem da palhaça, eu estava em um circo, onde a lona era o seu estrelado, o picadeiro era mágico todo azul com flores ao redor, a arquibancada era multicolorida.

A felicidade estava estampada em meu rosto, era uma apresentação única e exclusiva, tão lírica chegava a ser ingênua ao demonstrar o quanto estava feliz.  

Até ser lentamente desperta por uma voz suave, a da minha assistente que carinhosamente me avisava que faltavam alguns minutos para o início da próxima sessão.


Por segundos tentei voltar a sonhar, mas a palhaça precisava exercer o seu ofício fazer a felicidade alheia. Eu mestre da ilusão vestia a minha segunda pele, a mágica roupa de palhaça. Nesse instante a magia do sorriso tornava o meu eu momentaneamente feliz, mas a tristeza continuava implícita em minha alma.

De longe eu ouvia o rufar dos tambores, anunciando que a pantomima da vida começaria e como o show não podia parar, olhava-me no espelho e via refletido à “palhaça”, mas a janela de minha alma, os meus olhos refletiam a tristeza.

Vesti novamente a fantasia que aos olhos dos outros era multicolorida, mas aos meus era monocromática, como a maquiagem que em meu rosto fiz. Foi assim que deixei o camarim rumo ao picadeiro com a alma inundada das lágrimas, que as engoli para a palhaça sorri.

Naquele momento me desnudava da poetisa e a Palhaça voltava à cena frágil. Na pantomima da vida ao ser anunciada, entrei no picadeiro o meu rosto esboçava o sorriso maquiado, mas a alma e o coração inundados de lágrimas.

Encenava com a maestria o meu ofício e na arquibancada a plateia de pé me aplaudia pé e gritava:


_ A Palhaça o que é?


_ É a ladra de coração!!!


Naquele lugar mágico eu permaneci inerte, silente por alguns minutos entre os meus sentimentos e a magia daquele lugar, na verdade eu parecia estar em transe, sem perceber que o espetáculo tinha terminado.  

Momentaneamente eu cruzava a fronteira da triste realidade, para sonhar acordada que atuava em lindo picadeiro, sorrindo para alguém que me fazia sorrir, enquanto ao meu redor o circo se esvaziava. E, fiquei ali sozinha em meio à confusão do meu eu, até as lágrimas.

Talvez eu estivesse tomando para mim a força emanada pelos aplausos e da magia ali celebrada, por alguns momentos que para mim parecia uma eternidade, mas foi desperta por aquela voz angelical e por amigos eufóricos que me rodeavam.

_Palhaça! Palhaça!


Eu não sabia se ali estava a Palhaça, ou a Poetisa a chorar...

Como na poesia:

A PALHAÇA, A POETISA NO PICADEIRO DAS EMOÇÕES
POR BTSE

Verso este poema,
Para mais uma vez relembrar do passado,
Quando eu fui à palhaça
Do Grande Circo das Ilusões.

Nesse palco da vida
Eu era a mestre da ilusão.
Nele poetizei a palhaça
Que o público fascinou.

Naquele palco:
A ilusão!
A magia!

No lúdico picadeiro:
A vida!
O amor!

Emoções por mim revividas:
De poetisa a palhaça.
De palhaça a bailarina.
De bailarina a equilibrista.
De equilibrista a...
...mulher.

Que aprendeu com a Palhaça
No picadeiro da vida
Poetizar as ilusões.

Nele conheci o meu Eu artista,
Vivi ilusões, a magia da vida
E a mais pura emoção.

A Palhaça fez a plateia gargalhar,
Chorar e até pensar que ela era feliz...

Fez da fantasia e da maquiagem
Sua lúdica armadura.

Como a poetisa faz de seus poemas
Arauto do seu querer.

No espelho da vida
O seu eterno camarim.
O que ela vê?
A poetisa,
Ou a palhaça!

Na verdade ela vê refletido o rosto:
Da mulher!
Da palhaça!
Da poetisa!

No grande espelho que é a vida,
Um picadeiro das emoções.


Ao despertar compreendi que a arte serve para que em certos momentos da vida o insuportável se torne suportável, assim como a pintura no rosto da palhaça, sua máscara.

A última apresentação da artista, a “palhaça” entra no picadeiro estonteante, mas no seu íntimo o desamor e a decisão de um adeus, ou de um até breve. O seu coração vagava  perdido pela plateia, que repetidas vezes gritava:

 _ A palhaça o que quer? _ Perguntava a mestre de cerimônia, a Vida.


_ O coração de outro alguém. – Era resposta a ecoa por todo o circo.


Porém, ao fim da apresentação o senhor de todas as artes, ou da vida o Destino, mais uma vez me surpreendia. Quando tentei sorrir no exercício de minha arte, naquele lugar onde a magia escondia a mais dura realidade, vi na arquibancada o ser que um dia a palhaça encantou.

Não era ilusionismo ou magia, o ser que outrora roubou o meu coração estava ali, naquele momento busquei a força emanada pelos aplausos e fiz da palhaça a porta-voz de minha felicidade, fazendo a melhor apresentação de minha vida, na qual exercitei a sedução de gestos e olhares.

Sobre a sinfonia dos aplausos da plateia a sorrir, o picadeiro virava o meu paraíso, os holofotes que iluminavam cada gesto meu, ou melhor, as minhas palhaçadas, se igualavam aos olhos que me seduziam, como eu seduzia a todos ali presente... Assim eu fiquei sem precisar o tempo.

Eu e a plateia compartilhávamos um sorriso ímpar, foi nesse momento inimaginável, no qual eu fiz da minha felicidade a da plateia, que como de costume em pé respondiam a pergunta do mestre de cerimônia:

 _ A palhaça o que quer? _ Perguntava a mestre de cerimônia, a Vida.


_ O coração de outro alguém. – Era resposta a ecoar.

E, no picadeiro da ilusão entreolhar eu poetizei:

SILÊNCIO
POR BTSE

Mais uma vez o circo
Que outrora se ouvia
A plateia aplaudir.
Silencia-se!

A poetisa que se fazia
Palhaça desse lindo espetáculo
E de seus versos a apresentação deste.
Silencia-se!

Fecha-se a cortina,
No picadeiro somente
A mais completa escuridão
E o silêncio.

A palhaça encerra o espetáculo,
Mais uma vez se faz poetisa,
Fecha os olhos,
Busca no silêncio os aplausos.

Picadeiro e palhaça,
Poetisa e versos,
Silenciam-se com o fim
De mais um espetáculo.




Naquele momento como em muitos outros, a vida por detrás daquela maquiagem um sorriso, era quando a maravilhosa ingenuidade da palhaça se transformava em arma de sedução. 

Como agora, envaidecida pelos aplausos não percebi a hora em que o ser por mim amado deixou o circo (a minha vida).

Por segundos, como em outras apresentações passei a exercer a minha arte de fazer a felicidade alheia, na qual a ilusão e a magia era a dura realidade.

Momentaneamente, eu desejei que os aplausos cessassem, para que eu deixasse o picadeiro, pois a magia daquele palco tinha esvaído junto com a minha felicidade.

Por um curto período de tempo, não sei precisar, eu fechei os meus olhos e deixei as lembranças me levarem, para algum lugar no qual a alegria de um palhaço era luz aos seres que ali choravam, ou gritavam aterrorizantemente.

Um anjo em forma humana tirou-me daquela treva, ao se desgarra de sua mãe, correr em minha direção gritando:

_ Palhaça! Palhaça! Você está chorando, por favor, dê um sorriso. —Disse isso me deu um beijo e saiu correndo em outra direção.

A sua mãe olhou para mim, balançou a cabeça, me pediu desculpa  e saiu no encalço do filho.

_ Desculpa!


Mais uma vez silente deixei o picadeiro da ilusão, parecia que carregava os milhares de seres que em sonho ao me verem clamaram por um sorriso, me aplaudindo. Aplausos que ora me aturdia.

O silêncio do camarim me fazia interagir com o meu eu, precisava despir-se da segunda pele (a fantasia), da maquiagem (a máscara) e vê refletido no espelho o cansaço e a aflição.

Então me despi não só da palhaça como da atriz e passo a ser poetisa, como agora. E, de posse de uma caneta e papel em branco, calei-me e fiz dos meus versos, o que não conseguia dizer:

REVELAÇÃO
 POR BTSE

Sábias palavras
Revelaram em minha alma.
Verdades outrora adormecidas
E sentimentos há tempos o esquecido.

Benditas palavras.
Frases malditas...

Atormentaram momentaneamente
A minha alma
Dominando o meu sofrer.

Rogo aos anjos e arcanjos
Seres de boa vontade,
Que aclarem os meus pensamentos.

Façam-me entender!
Façam-me acreditar que o mundo conspirou.
Deixem-me crer que ele
Deu-me a bênção de lhe ter.

Ao abrir o baú da emoção pude ver que por muitas vezes eu fiz a felicidade alheia, com a minha alma inundada pelas lágrimas, que a maquiagem escondia.   

Nesse momento desperto para a vida,  então fecho mais uma vez o baú (no meu eu), as lembranças que ora vivenciei igualam o meu passado ao presente e a solidão me aflige. 

O meu eu atriz olha no espelho chamado ilusão e vejo o sofrimento de outrora e faço dos poemas por mim versados, porta-vozes da esperança em encontrar a felicidades com outro alguém.

ALGUÉM
 POR BTSE

Quem será esse alguém,
Que chegará à minha vida
Para me amar
E ser amada.

Duas almas livres
A se tornarem uma só
E no amor serem felizes.

Dois corpos ávidos
Em uma união perfeita
No alvorecer do amor.

Quando se inicia
Mais uma vez a batalha da vida,
Na qual não se terá
Vencido ou vencedor.

Por sermos
Almas pelo amor, cativas.

Infinitamente felizes
Em vivenciarmos
Esse amor.

Quem será esse alguém?
Quem será?


Então a atriz se vê mulher se maquia, sorri e se prepara para entrar no palco da vida. Olho para o horizonte, como se amanhecesse em minha alma e vejo um sorriso de esperança, como o meu nome.

Aliás, desculpa por não ter me apresentado, eu me chamo Esperança, aquela que outrora vivia ora aqui outra acolá se apresentando no palco da vida, até encontrar um novo amor.

Quando fez da palhaça apenas lembranças guardadas a sete chaves no baú chamado “Emoção”.
 
        
PALHAÇA
POR BTSE

A palhaça o que é?
É o riso no ar,
A criança a brincar
E a plateia a sorrir.

A palhaça o que é?
É palavra no ar,
Corações a palpitar
E a emoção a fluir.

A palhaça o que quer?
Um coração distraído,
Um olhar encantado
E uma paixão a florir.

A palhaça o que faz?
Ao semear alegria
Faz do picadeiro magia.

Espalhando esperança
Por todo o mundo,
Com o seu olhar.

Ao fim do espetáculo
Ao som dos aplausos,
Colhe o amor.

Nesse eterno ofício,
A palhaça, ora mulher
Veste a sua linda fantasia
Multicolorida

E no espelho da ilusão
Faz a mais linda maquiagem
E a magia acontece.

A mulher sorri para o amor,
A palhaça sorri do amor,
Que no picadeiro encontrou.


 

Notas Finais: 

Novamente a plateia em pé grita: A palhaça o que quer? O coração de outro alguém!

 
Obrigado...       

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